O dia 24 de março, além de marcar o aniversário de 150 anos do município, também é o dia da fundação do Centro Cultural Açoriano de Arroio Grande. Em ato simbólico na Casa dos Açores do Estado do Rio Grande do Sul em Gravataí, foi assinado o Protocolo de Cooperação entre a Prefeitura de Arroio Grande, a Casa dos Açores e o Governo da Região Autónoma dos Açores/Portugal.
Estiveram presentes representantes da Prefeitura de Arroio Grande, Franciéle Soares, da Secretaria de Cultura, Luiz Roberto Silva Cunha, e do museólogo Heron Moreira, representando o Museu Visconde de Mauá, sede do centro fundado em consonância com as ações de valorização da história dos povos indígenas, açorianos e africanos que formaram uma identidade e cultura plural e dinâmica do arroio-grandense.
Os Centros Culturais Açorianos foram fundados em cidades com elos de ligação com a cultura açoriana em sua formação e desenvolvimento. Em Arroio Grande, apesar de poucas publicações sobre o tema, é inegável a presença açoriana, seja nas famílias que vieram das ilhas e se envolveram diretamente no processo que deu origem a cidade, seja na urbanização e arquitetura, seja na agricultura, nos traços culturais linguísticos, nas tradições ou artesanato: trigo, o uso do “tu”, as danças tradicionais gaúchas e religiosidade, ou o guardanapo de crochê.
Segundo explicou a representante do Prefeito Ivan Guevara, Franciéle Soares, Gestora em Turismo e Coordenadora de Memória e Patrimônio da SECULT AG, o “protocolo é destinado a sistematizar a cooperação em benefício da comunidade açoriana, visando a criação de espaço dinâmico com ações voltadas a açorianidade, incentivando a divulgação da história, costumes e a contemporaneidade do Açores. A celebração do protocolo foi em conjunto com outros 9 municípios gaúchos que agora contam com os Centros Culturais Açorianos, entre eles, Jaguarão e São José do Norte.
Luiz Roberto Cunha, Diretor Administrativo da SECULT AG, ressaltou a importância do momento vivenciado pelos representantes, que além da assinatura, assistiram apresentações artísticas que demonstraram nosso vínculo cultural com essas ilhas. Para o Beto, é necessário olharmos a história de forma ampla para entendermos sobre aqueles que criaram circunstâncias materiais e imateriais para o desenvolvimento da cidade que vemos hoje e das relações com outras culturas.
Outro compromisso estabelecido foi a criação de um programa cultural voltado à troca de experiências e de conhecimentos sobre a cultura açoriana. No momento da assinatura foi ofertada pela representação dos Açores uma placa alusiva às 9 ilhas do Açores com a data de fundação do Centro, após Franciéle agradeceu e falou sobre a relevância desta iniciativa nesse momento em que a principal ação do Museu Visconde de Mauá tem sido falar dos povos formadores de Arroio Grande, inclusive os açorianos.
O museólogo Heron Moreira destacou que a Prefeitura de Arroio Grande se comprometeu a dispor um espaço, o Museu Visconde de Mauá, para a exposição do acervo do Centro Cultural Açoriano, doado pelo Governo Regional do Açores, que serão incorporados ao acervo do Museu e expostos, segundo o responsável técnico, a partir de maio, quando o Museu será reaberto após manutenção e reorganização da exposição permanente.
De acordo com a Secretária de Cultura, Anelize Carriconde, articuladora do convênio com a Casa dos Açores, esse é o resultado do esforço da Secult em pautar a discussão sobre esses elementos etnico-raciais fundantes da diversidade cultural de Arroio Grande nesta efeméride. A pesquisa sobre os açorianos é recente e mais ainda em Arroio Grande, mas foi demonstrado no protocolo de intenções o reconhecimento da comunidade açoriana com as ações que a pasta vem articulando e principalmente do nosso vínculo histórico com essa comunidade irmã além-mar.
As comemorações dos 150 anos de emancipação política de Arroio Grande não se resumem a um fato isolado, mas uma sequência de ações no contexto do processo de desvinculação de Jaguarão em 1873. O processo iniciou em 24 de março, com a publicação da Lei Provincial nº 843 que elevou a Freguesia Nossa Senhora da Graça do Arroio Grande à categoria de Vila. Em 24 de maio ocorreu a eleição dos Vereadores que vieram a tomar posse em 22 de dezembro na instalação da primeira Câmara de Vereadores, consolidando o processo emancipatório.
Ao entender essa sequência de fatos significantes, o Museu Visconde de Mauá e a Prefeitura irão propor que, durante o ano de 2023, as ações e eventos estejam alinhados aos 150 anos. Durante o mês de março o Museu receberá a comunidade escolar para os “Caminhos da Diversidade”, na expectativa de receber cerca de 800 estudantes que percorreram um roteiro mediado por pontos históricos abordando os antecedentes indígenas, açorianos e africanos e a história do município.
No mês da eleição dos primeiros vereadores, em consonância com a Semana dos Museus, os “Caminhos da Diversidade” receberá a comunidade para refletir e conversar sobre nossa história comum através de desse passeio museal que visa descentralizar as ações da instituição e transforma a cidade em patrimônio cultural vivo e significante.
A criação do Centro Cultural Açoriano é mais uma forma de compreendermos o nosso passado, assim como a Coleção Arqueológica Claudio Pereira, referente aos indígenas. Nesse sentido a Secretaria de Cultura e o Museu Visconde de Mauá está articulando uma ação para a incorporação de acervos que estejam ligados aos afro-gaúchos, descendentes dos africanos, uma comunidade que luta e resiste e que é fundamental para nossa cultura, materialmente e simbolicamente, que apesar de imensa é pouco representada.